O nível de frequência da minha vibração evidencia o meu desejo, sempre latente nas diversas camadas do meu inconsciente, e portanto a nível de alma, a nível de criança interior: desejo fazer determinada experiência. Está tudo certo, porque, uma vez encarnados, é isso mesmo que viemos fazer neste mundo da matéria.
Tantas coisas vão chegando, não percebo que as invoquei, porque muitas delas não parecem desejadas.
Experiências há que insistem em repetir-se, só para me contrariar. Não fui eu que pedi… ou foi? Exemplos não faltam entre nós humanos, e fica até divertido, mas nem sempre, compartilhar entre amigos. A relação problemática que se replica e que pareço nunca acertar, os n divórcios, assédios, malogros, desaforos, mal-entendidos, dívidas e imprevistos incômodos. Para não falar nos grandes e pequenos vícios. Justifico todos eles, não falta argumentação, para sobretudo e nunca jamais parecer culpada.
Procuro lá fora a origem dos desconfortos e infortúnios, nos outros, na família, nas circunstâncias, na sociedade, no governo e nas divindades. Não fui eu que pedi, posso provar!
Não fiquei sabendo, ainda, que a minha configuração humana lesionada pelo mito da separação, não me deixa lembrar que foi isso mesmo que criei, e que foi para poder fazer parte de brincadeira! Tradições orientais identificam ali o eterno brincar, lila, misericordiosamente encoberto pelo véu do esquecimento de maya, a matrix do aprisionamento confortável, do consenso coletivo.
Surgem os apegos que são uma espécie de certeza aconchegante de que não se mexe em time que está ganhando. Continuo vibrando naquela frequência vibratória do desejo que deu origem à experiência, ao que ela, obediente e atenta ao que invoco, sempre volta para mim, em roupagens diversas, diversificando e enriquecendo assim a vida que escolho, iluminando-a a partir de diferentes ângulos.
Porém, dia desses, a brincadeira, que já faz parte do corriqueiro, mostra a cara. De novo? Chega um descontentamento, uma desorientação, uma impaciência, um tédio, um cansaço visceral, todos mensageiros daquela criança interior que exige que tudo venha fresquinho, do dia. Lembra? Tudo borbulhava, surpreendia, tinha ar de novidade, espanto e alegria.
O conforto encolheu, dá lugar a uma carência aqui, outra lá. Mais para frente, um aperto, um estreitamento, por vezes uma barreira, um buraco, sensação de fritura. A matrix ficou densa e impenetrável, não me encontro mais. Uma voz tênue e insistente povoa as madrugadas insones e me chama, brincalhona: lembra de mim? …
Aprendo a prestar atenção, exercício penoso porque desconcertante e fugidio. As frequências destoam. Sinto que é preciso silenciar para afinar a escuta e afinar a vibração. Nas madrugadas misteriosas, pouco antes do eterno retorno ao cotidiano, às vezes um vislumbre: o que me acorrenta?
Vislumbre valioso que ergue um pouquinho o véu para poder enxergar o apego, dar-se conta do patamar de vibração, desvendar o hábito que ali se esconde, desenvolver musculatura mental para voltar o olhar para dentro de mim, buscar a criança interior abandonada, de novo e de novo e de novo.
Percepções mínimas, pulsações delicadas, frequências quase inaudíveis; de súbito, um sobressalto feliz. Esgotei aquele desejo em todas as suas facetas e o querer se esfacelou. Agradeço, respiro fundo; a vibração que se manifesta em mim agora galga os degraus da escada de Jacó, lembrança bíblica da transformação frequencial. Tem jeito de começo novinho em folha, do dia, como pede a minha criança interior.
Vida que segue na alegria do olhar ampliado.