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O ego ora se ofende, quer ganhar, quer ter razão, quer ser melhor, quer ter mais, identifica-se com os êxitos, busca a fama, defende a imagem construída com a qual se identifica.
Se vivemos um dia ruim, essa mesma mentalidade que aparentemente não sabe, nos lança na percepção negativa de nós mesmos, e apelamos para a vitimização: sou um fracassado, nunca serei bom o suficiente, nada dá certo para mim, não consigo, só podia mesmo ter acontecido comigo, a minha condição social não permite…, a minha condição de saúde me impede de…, sofro de depressão, olhem para mim.
Prazer, posse, prestígio, poder. O que enumeramos acima tem as características que Patanjali definiria como avidya, o não saber de si, e nessa versão da paisagem mental, operamos em rajas distorcido. Identificados com a imagem do construto, cuidadosamente preservado. Nesses estados estamos em excitação, distraídos de nós mesmos, com pouca ou nenhuma percepção do entorno, sugando a preciosa energia do nosso campo eletromagnético para dentro dos chacras básicos. Uma leve porém constante ansiedade, sutilmente habitual, faz com que os corpos sutis se desvitalizem.
Nesse quadro temos toda uma circunstância operando em tamas distorcido. É a frustração que comanda a bioquímica que enfraquece o sistema imunológico. Não é pequeno o número de pessoas que se permitem resvalar para uma tristeza que igualmente ameaça tornar-se habitual.
Na raiz profunda dessa montanha russa emocional está o medo visceral de morrer, de não ter continuidade, de acabar no vazio. A desvitalização à espreita é real. Separação de tudo e de todos, polarização, competição e disputa, todos esses movimentos revelam os vrtti klistah, a paisagem mental habitual aflitiva, desdobramento do medo primordial que abala a saúde física e mental.
É o medo subliminar que vira hábito, gerando o estado mental “default”. Quando despertamos para a percepção desse padrão vibratório, podemos fazer com que os elementos que compõem o karma tripartite de cada um operem a favor da boa vida. Eis a grande chance.
O medo nos serve, sim, de proteção, alertando para possíveis ameaças, configurando um sistema natural de prontidão que prepara para a ação adequada. No entanto, ao permitirmos que ele se instale perenemente nos circuitos neurais, ele nos possui, e institui o caos biológico, amarrando-nos às necessidades mais básicas da sobrevivência, manifestadas nos três chakras inferiores. Desconecta da ordem superior de harmonia e equilíbrio que faz brilhar a saúde perfeita.
Somos células vivas compondo a ordem harmoniosa do universo. Tal como os trilhões de células que compõem o nosso corpo, formamos nós, humanidade, uma engrenagem que necessita de ordem e coerência para compreender que o processo de renovação é o fundamento da saúde em todos os níveis. A célula cancerosa é aquela que se recusa a aceitar um término natural que serve à renovação, à evolução, à espiral evolutiva do retorno à Fonte.
Quando o pavor da morte domina, ainda que subliminarmente, somos levados a percepções, e dali para experiências, que sugam a vida. No entanto, tudo tem que terminar, para que haja renovação, para que possamos caminhar: situações, relacionamentos, sonhos, corpos, maneiras de pensar, crenças.
Abhyasa e vairagya, a prática que carrega em si o incansável desapego, nos direciona para o momento presente, vazio e dinâmico, quieto e ainda sem forma, campo zero das infinitas possibilidades. Dali, a cada momento, aqui e agora, vislumbro os caminhos que deixam leve o meu coração.
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Viver implica em lesionar-se com alguma frequência. As feridas que daí resultam são mais, ou menos, profundas. Ao nível físico, são as defesas naturais do corpo que se mobilizam imediatamente, enviando a química necessária à reparação. Ainda ao nível físico, se o ferimento atinge os tecidos profundos, temos a arte da medicina com as suas especialidades para recolocar tudo no seu lugar e quiçá recorrer aos recursos de uma plástica cosmética para apoiar a estética. Aparentemente, tudo se cura, regenera e volta ao normal.
Ao buscar um tratamento com uma profissional da osteopatia, essa especialidade mágica que tudo descobre na palpação amorosa e certeira, quis ela saber sobre as cicatrizes que eu havia amealhado durante a minha vida, revelando que cicatrizes, e notadamente as profundas, se não forem cuidadas, manuseadas e pacientemente massageadas, tendem a enrijecer por serem constituídas de tecido reparador fibroso. E pasmem, ao longo da vida o enrijecimento pode chegar a um nível tal, que a cicatriz põe-se a tracionar o campo adjacente, causando um mais, ou menos, sutil desarranjo na ordem natural dos tecidos e dos órgãos, atrapalhando a fluidez dos aportes de nutrientes e da drenagem dos elementos tóxicos.
Ouvindo isso, a minha veia filosófica sentiu um sobressalto: o que dizer então dos constantes e por vezes imperceptíveis eventos emocionais, grandes e pequenos, aos quais damos permissão de nos atingir e lesionar? O tempo fará com que sarem; permanecem porém as cicatrizes nos porões dos nossos circuitos neuronais, influenciando a química que comanda a saúde do corpo. Se não lhes dermos atenção vigilante e carinho, para não resvalar para um estado mental de vítimas das tendências e circunstâncias que compõem o jogo das nossas vidas, o desequilíbrio passa a instalar-se sorrateiramente, em silêncio. Sem o autocuidado, que só nós mesmos podemos aprender a ministrar, massageando e amaciando os eventos com amor, empatia e perdão, sobretudo em relação a nós mesmos, o desequilíbrio se transforma em sofrimento e rouba-nos a paz interior.
E é dela que depende a nossa saúde como um todo: corpo, mente e espírito alinhados.
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Se foco em alguma coisa, é que busco contornos mais nítidos e compreensão mais profunda. Foco requer intenção e atenção. A qualidade do foco e do seu resultado depende da qualidade da intenção, e da qualidade da atenção que empenho no processo.
O confronto diário com um sem número de questões, de maior ou menor importância conforme o significado que atribuo a qualquer uma delas, exige um foco para que elas possam compor a lida diária. Porém se foco sem antes limpar o que está na minha mente, vou apenas projetar o conteúdo da mesma. A resposta que obtenho vibra segundo a forma-pensamento que utilizo. Se não fiz uma limpeza prévia para chegar a uma clara intenção daquilo em que desejo aplicar a minha atenção, desperdiço energia.
Isso porque a uma forma-pensamento se une uma forma-som, que é a palavra, e que reforça dentro de mim um sentimento relativo à questão. Está assim criado um complexo vibratório energético da frequência x ou y, segundo o conteúdo da questão. Podemos pensar nesse complexo vibratório como uma bolha, ou como se diz com referência às redes sociais, uma echo chamber ou câmara de eco. A bolha não pode senão atrair mais do mesmo, num circuito neural cada vez mais bem definido, e cada vez mais confortável ou desconfortável, identificado com e dentro de si mesmo. E irradiando a sua própria mesmice.
Se compreendemos em profundidade que não estamos separados e sós no Multiverso, como os governos querem nos fazer acreditar semeando discórdia – lembrando aqui que há camadas e mais camadas insuspeitas de chamados “governos” -, ficará bem claro que a qualidade frequencial da nossa bolha em breve terá atraído toda uma egrégora, potencializando a vibração emanada. O que emano, recebo de volta, porque o Universo entende que foi o que pedi.
A vibração então, que é sutil, cria mundos, de medo ou de paz, de ódio ou de amor, conforme a nossa escolha por vezes descuidada. Cria qualidades mentais e corpos, cria saúde e cria doença. Cria terror ou serenidade, confusão ou clareza, refletidas como aparentes opostos no outro que compartilha comigo o entorno coletivo.
A vibração de cada pequena bolha pessoal é um milagre. Multiplica-se na atração do que percebe ser igual ou repetido com frequência, em progressão geométrica. Assim, escolho se quero ruína ou poder, para mim e para o mundo, porque a bolha insuspeita reverbera muito além do meu corpo mental e mortal, aquele espaço tão meu e tão maior do que eu.
Descubro que eu importo. Carrego responsabilidade.
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“A palavra [em sânscrito] nirodha vem da raiz rudh com o prefixo ni, e significa segurar, prender, confinar, dominar.” (Gloria Arieira, “O yoga que conduz à plenitude: Os Yoga Sutras de Patanjali”)
Entre os especialistas e estudiosos de yoga, o termo é usado nesse seu significado acoplado às inevitáveis flutuações da mente humana, que impedem o estado realizado do yoga, o vrtti-nirodhah. Assim, domínio dos movimentos da mente é a definição de yoga mais sucinta e emblemática possível.
Para uma compreensão mais ampla ofereço, com a devida cautela, alguns conceitos que pouco a pouco podem revelar o quão prática é a filosofia milenar do yoga, perfeitamente aplicável às questões e angústias de ordem emocional e psicológica do cotidiano da humanidade contemporânea.
- Controle voluntário das flutuações da mente humana, direcionando-a pacientemente para um estado de harmonia e clareza
- Rearranjo, recomposição, reorganização de caminhos neurais
- Pacificação da mente
- O caminho proposto por Patanjali para chegar ao objetivo do yoga
- Desparticularização dos conteúdos da mente, para que ela possa retornar ao fluir desimpedido
- Permitir à partícula cristalizada como ponto de vista o seu retorno ao estado de onda
- Suspender o juízo, inclusive sobre si mesmo
- Recolher para “dentro” o que se espalhou para “fora” sob a forma de projeção para que possa ser reconhecido
- Retorno à potência do SER mediante o bom uso de energia, espaço e consciência
- Reestruturação profunda dos padrões e programas mentais
- Voltar a atenção à vida interior para reconectar com a Fonte criadora suprema
- Dar-se conta de que o ego protege a sua própria existência, por meio de estratagemas de distração infindáveis, negando a presença, na mente processadora, desse seu poder de escolha e livre-arbítrio. (Um Curso em Milagres)
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Lanço aqui um glossário para fazer companhia aos textos que vão surgindo.
Glossários propõem-se a jogar luz sobre o que está obscuro, nebuloso, duvidoso, dividido, incompreensível. Propõem-se também a definir. Todavia: definição determina, delineia, classifica, insere em categorias, em outras palavras, limita e, ali no fim da linha, ameaça aprisionar.
Se por um lado jogar luz clareia a escuridão do conhecimento escasso, por outro lado, definir tende a cristalizar a mente humana, que está sempre em busca de certezas que lhe transmitam segurança sobre como conduzir a vida. Cristalizações sucessivas trazem consigo o perigo da paralisia. Mentes de grande inteligência e conhecimento, academicamente treinadas em padrões considerados de excelência, correm, sim, perigo de travar em paradigmas de consenso tidos como certos e inabaláveis, e de perder o senso de uma percepção imediata de realidade.
Dedico este blog a seguir o agora. O agora pode parecer incerto e inseguro, e é então que queremos defini-lo para saber em que direção aponta. Mas também pode oferecer um leque infinito de possibilidades de criação de realidades segundo as escolhas que nos permitirmos fazer para viver uma vida boa, bela e soberanamente autêntica seguindo o nosso saber mais profundo, o do coração.
Uma miríade de pensamentos e consequentes experiências, foram desde sempre plasmados na biblioteca cósmica comumente chamada de registros akashicos, saberes infinitos carimbados no éter, ou vácuo cósmico, de acesso ilimitado para todos e cada um de nós.
Assim, que glossários possam trazer-nos inúmeros pontos de vista interessantes. São apenas pontos de vista, que se dão conta de que não passam de um aspecto limitado de uma verdade inacessível, mas da qual nos aproximamos, não mais do que isso, à medida que o espectro dos saberes provenientes de uma grande quantidade de filtros mentais se amplia e cria espaços compartilhados, benevolentes e compassivos.
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Muitos de nós talvez não o saibam: o idioma original do Novo Testamento é o grego. Um tradutor apaixonado pelo idioma grego daqueles tempos, o americano Andy Gaus, apaixonou-se pela simplicidade dos textos originais e decidiu fazer-lhes a releitura por intermédio de uma nova tradução despojada e livre dos inevitáveis dogmas e interpretações teológicas, por vezes criados por autoridades eclesiásticas séculos após a publicação dos livros que compõem essa Escritura.
Assim, ele faz um salto de dois mil anos, limpando uma linguagem “bíblica” fundada em convenções profundamente arraigadas que acabaram por encobrir um texto vivo, simples e direto. O resultado é uma leitura fácil e fluida, poderosa e mais humana, que nos revela toda a beleza perene da obra.
Tudo isso para chegar onde quero: entre tantos outros ajustes está o significado da palavra que nos foi legada como pecado, e segundo os dogmas acrescentados, de forma inescapável: o pecado “original”. Aquele que literalmente gruda em todo ser encarnado segundo a crença de uma porção importante da humanidade. Aquele cuja expiação exigiria o sacrifício de sangue.
O vocábulo grego em questão é hamartia. Aprendemos aqui que se trata de uma expressão inofensiva utilizada pelos arqueiros: hamartia significa pura e simplesmente errar o alvo, e portanto, nada que não possa ser corrigido, perdoado e curado. A correção impecabiliza, se for essa a minha escolha.
Séculos de culpa e vergonha e medo sendo retificados e dissipados de um só golpe, se quisermos, graças à expansão de consciência na busca sincera de uma releitura ampliadora do conhecimento possível e disponível para todo ser humano de boa vontade.
E se nos fosse dado, num esforço coletivo e amoroso, buscar e encontrar e desvendar e limpar mais e mais implantes, convenções, opiniões, dogmas, ensinamentos retorcidos e particularizados que permeiam a nossa sociedade planetária desnorteada recobrindo-a com um denso véu, para então retificar significados enviesados por meio de um grande perdão universal?
Somos nós, seres humanos, dotados das faculdades necessárias para empreender esse esforço. O caminho passa pelas escolhas preferidas de cada um, mas nunca dispensa a reversão radical do olhar. Se limpo cá dentro, passo a projetar pureza genuína, para abrir caminhos mais brandos lá fora.
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Panta rei dizia Heráclito. Tudo flui. Não nos banhamos jamais no mesmo rio, porque o rio jamais é o mesmo. Leva embora prontamente o que foi, ora plácido, ora torrencial, e sem hesitação.
Tudo flui, fluir teimoso e incessante, renovação em nanobits numa escala de 10 elevado à potência negativa -9. Nano, o bilionésimo de um metro. Medida de tempo e espaço improvável, de 0,000000001m. Como segurar? O tempo escorre, e com ele o espaço, que só existe como função do tempo. Ou vice-versa. Vastidão inimaginável de potenciais e recursos possíveis; alguém aí para me dizer o que posso criar, inventar, construir alegremente no próximo piscar de olhos? Só mesmo eu.
Crio saúde, invento alegria, construo beleza. Se quiser.
Expandir ou recolher, os dois movimentos assinalam a possibilidade de navegar o infinito. Duas faces da mesma moeda. Se ficar chato, é só focar a intenção que encerra em si o livre arbítrio, gerado na infinita confiança da escuta aguçada de um saber inusitado e sempre presente. É simples, mas custa acreditar: é ali que se esconde a fé que dissolve o medo. Uma vez confortável nos túneis da pulsação do próprio coração, aquela pulsação um pouco misteriosa, às vezes até ruidosa, que se manifesta em inúmeros locais desse espaço que criamos e que chamamos de meu corpo, a tagarelice da pequena mente dá-se conta de que é tanto espaço, que ela desiste de prenchê-lo com os conteúdos que orgulhosamente chama de seus. Exausta enfim, cala-se.
Nessa quietude, a informação pulsante daquele saber armazenado nos túneis do tempo passa a fluir com livre acesso e passagem para tudo e todos. Pulso que sabe da rigidez e flexibiliza. Que conhece a contração, e oferece relaxamento. Que intui as raivas e só assopra. Que abraça o medo para desmanchá-lo.
O pulso que flui só quer continuar na fluidez da miudeza do nanobit, não sabe do apego ao aconchego do hábito escondido entre as pregas do que é familiar e que portanto confere alguma forma de certeza àquilo que criamos como sendo um eu. O pulso é EU e flui, posiciona-se no todo do universo obedecendo às leis imutáveis dos campos que ora atraem, ora repelem, na dança do eletromagnetismo.
A dor dissolve, o medo transmuta. O reposicionamento dos campos acontece sem esforço e, se estivermos em modo permissão, aflora a saúde perfeita.
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Ao ser concebida, repousava em mim. Quieta, já muito viva, sem nenhuma forma, e sobretudo infinita. Só vibração, muita luz e muito som, sim, som. Só flúido fluindo, amoroso e atento. Conectada ao que me sustenta, sem questionar as suas leis imutáveis, segura e protegida portanto, e tão confiante. Receptiva ao que desse e viesse e pronta para tudo compartilhar, estender, criar, só potência ansiando por atualizar-se, comunicar derramando amor.
Protoplasma que eu era, e tendo recebido a ignição amorosa e criativa que me cabia pela minha própria escolha, prossegui nessa trajetória que agora se consumava, conforme os meus desígnios que se misturavam, ainda, com os do Criador. Entrei na vida, não sei em que exato momento, à medida que as células se multiplicavam com precisão geométrica divina, imprimindo no flúido inicial a lei do dharma. Mal sabia eu que havia feito votos de a ela me conformar.
No útero, talvez, aquecida e nutrida, ainda sem necessidades, aquele imenso esquecimento. Onde foi mesmo que esquecemos? Em que exato momento sobreveio a passagem, aquela grande distração e com ela o afastamento da generosa lei que nos protege e sobretudo alegra por nos unir? Por que não falamos dessa passagem, que sinaliza o aparentemente auspicioso ingresso naquilo que chamamos de matéria ou prakrti?
Capturados por vezes inospitamente num corpo com o qual será preciso aprender a lidar, buscamos reorientar-nos e, comandados pelas necessidades dessa matéria que nos envolve, surge o primeiro sofrimento, manifestado na busca constante pelo conforto do seio materno que parece tudo prover. E por um curto período podemos retornar à bolha, quieta, viva, infinita e sem forma. Por quanto tempo ainda?
Sofrimento não se apresenta como tal, sofrimento não aparenta ser sofrido, é esperto, recorre a muitos expedientes para que possa permanecer no escuro da sombra, oculto de nós mesmos, e assim corremos o tempo todo à busca do conforto da aparentemente segura conexão com o ambiente que nos cerca. Numa hipótese feliz, ao seio materno vem somar-se as figuras que compõem esse ambiente a ser criado, configurando a paisagem dentro da qual cresceremos, mais, ou às vezes menos, protegidos. Ali, o retorno, aí, cada vez menos frequente, à memória das sensações da bolha original que nunca se separou do Todo da consciência primordial inteligente que nos quer criadores.
Criar é estender amorosamente, e é esse o aprendizado a fazer. A compreensão desse tripé criação – extensão – amor demanda vidas e mais vidas de experiências, durante as quais não criamos e sim projetamos. Projetamos o projeto que permitimos ser construído na pequena mente, com a qual nos identificamos ora alegre e prontamente, ora mergulhados em ansiedade e desespero. Ora no hábito do apego, ora na rejeição repetidamente ensaiada. Por vezes ainda, no repouso de momentos de paz e serenidade, quando tudo vale a pena.
Uma só dessas vidas, a aparentemente atual, é o que somos precariamente capazes de administrar, porque misericordiosamente a lei cósmica, por ora, nos faz esquecer as outras. Se é agora que um alvorecer de consciência nos chama, pelas miríades de eventos com que somos defrontados, paramos de perder tempo e, titubeantes ainda, colocamo-nos em marcha para encurtar o roteiro. “Bata à porta, e ela se abrirá, peça e lhe será dado, busque e achará.” Foi Jesus homem anjo que assim sugeriu.
O que é esse desejo que nos impulsiona, senão a vontade irreprimível de retornar à bolha de conforto de paz indizível da qual fomos, sempre aparentemente, expulsos. A esse aparente desterro, engano monumental que nos enche de culpa inconsciente pelo resto das existências, Patanjali chama de avidya. É um estado que perdura através das inúmeras encarnações durante as quais sonhamos estar separados do Criador, sofrendo assim a perda da reta percepção. Utilizamos equivocadamente o poder de criação que a Fonte nos conferiu, para nos deixar conduzir pelo que ditam os sentidos. Assim, perdemo-nos na ilusão de que não seríamos seres totalmente preenchidos e completos. O sonho se transforma em pesadelo, que Patanjali caracteriza nos primeiros sutras: distorção distraída que nos afasta da essência original, o purusha imutável, o Self verdadeiro que conhece a realidade do protoplasma sem medo.
É o desejo, oculto sob inúmeros disfarces, que provê a guiança necessária ao retorno.
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O nível de frequência da minha vibração evidencia o meu desejo, sempre latente nas diversas camadas do meu inconsciente, e portanto a nível de alma, a nível de criança interior: desejo fazer determinada experiência. Está tudo certo, porque, uma vez encarnados, é isso mesmo que viemos fazer neste mundo da matéria.
Tantas coisas vão chegando, não percebo que as invoquei, porque muitas delas não parecem desejadas.
Experiências há que insistem em repetir-se, só para me contrariar. Não fui eu que pedi… ou foi? Exemplos não faltam entre nós humanos, e fica até divertido, mas nem sempre, compartilhar entre amigos. A relação problemática que se replica e que pareço nunca acertar, os n divórcios, assédios, malogros, desaforos, mal-entendidos, dívidas e imprevistos incômodos. Para não falar nos grandes e pequenos vícios. Justifico todos eles, não falta argumentação, para sobretudo e nunca jamais parecer culpada.
Procuro lá fora a origem dos desconfortos e infortúnios, nos outros, na família, nas circunstâncias, na sociedade, no governo e nas divindades. Não fui eu que pedi, posso provar!
Não fiquei sabendo, ainda, que a minha configuração humana lesionada pelo mito da separação, não me deixa lembrar que foi isso mesmo que criei, e que foi para poder fazer parte de brincadeira! Tradições orientais identificam ali o eterno brincar, lila, misericordiosamente encoberto pelo véu do esquecimento de maya, a matrix do aprisionamento confortável, do consenso coletivo.
Surgem os apegos que são uma espécie de certeza aconchegante de que não se mexe em time que está ganhando. Continuo vibrando naquela frequência vibratória do desejo que deu origem à experiência, ao que ela, obediente e atenta ao que invoco, sempre volta para mim, em roupagens diversas, diversificando e enriquecendo assim a vida que escolho, iluminando-a a partir de diferentes ângulos.
Porém, dia desses, a brincadeira, que já faz parte do corriqueiro, mostra a cara. De novo? Chega um descontentamento, uma desorientação, uma impaciência, um tédio, um cansaço visceral, todos mensageiros daquela criança interior que exige que tudo venha fresquinho, do dia. Lembra? Tudo borbulhava, surpreendia, tinha ar de novidade, espanto e alegria.
O conforto encolheu, dá lugar a uma carência aqui, outra lá. Mais para frente, um aperto, um estreitamento, por vezes uma barreira, um buraco, sensação de fritura. A matrix ficou densa e impenetrável, não me encontro mais. Uma voz tênue e insistente povoa as madrugadas insones e me chama, brincalhona: lembra de mim? …
Aprendo a prestar atenção, exercício penoso porque desconcertante e fugidio. As frequências destoam. Sinto que é preciso silenciar para afinar a escuta e afinar a vibração. Nas madrugadas misteriosas, pouco antes do eterno retorno ao cotidiano, às vezes um vislumbre: o que me acorrenta?
Vislumbre valioso que ergue um pouquinho o véu para poder enxergar o apego, dar-se conta do patamar de vibração, desvendar o hábito que ali se esconde, desenvolver musculatura mental para voltar o olhar para dentro de mim, buscar a criança interior abandonada, de novo e de novo e de novo.
Percepções mínimas, pulsações delicadas, frequências quase inaudíveis; de súbito, um sobressalto feliz. Esgotei aquele desejo em todas as suas facetas e o querer se esfacelou. Agradeço, respiro fundo; a vibração que se manifesta em mim agora galga os degraus da escada de Jacó, lembrança bíblica da transformação frequencial. Tem jeito de começo novinho em folha, do dia, como pede a minha criança interior.
Vida que segue na alegria do olhar ampliado.