Importar, ou importar-se: considerar, ter importância, dar importância, mas com uma pegadinha maliciosa: o objeto da importância e do importar-se possui utilidade, interessa, pode ser usado de determinada maneira. E traz consigo, envolve, um determinado resultado ou efeito, que é desejado.
O amor, aquele compreendido sem maiores considerações filosóficas e tal como é aceito socialmente, se importa com o objeto amado. É amor aprendizado. Não somos indiferentes ao que a pessoa amada faz ou deixa de fazer. Muito pelo contrário, a energia flui ferozmente naquele ato de avaliar certos e errados, bons e maus envolvidos nas ações desse ser tão especial sobre o qual projetamos literalmente todas as fibras das nossas expectativas…
Maldade, querer julgar essa visão. Porque projetar é o que fazemos de melhor, como raça humana, há milênios. Temos bons motivos para sermos assim, providos que somos de um cérebro treinado para estar em alerta a toda sorte de perigos essencialmente ilusórios, presos num cenário holográfico, e aparentemente sem ferramentas para dele escapar porque nascidos no esquecimento de quem realmente somos.
Assim criamos, cada um por si, grandes criadores que somos sem o saber, o nosso mundinho, coletivamente aceito e aceitável, seguro, protegido, adaptado ao ambiente que dividimos uns com os outros, vigiando e vigiados.
Acontece que vigiamos na direção errada. Acontece que criamos na direção errada. O truque é lembrar que já fomos criancinhas e que o nosso cérebro, sempre ele, não tinha filtros então, filtros sucessivamente implantados no evoluído córtex pré-frontal rumo à idade adulta, que benção!
A ambiguidade é proposital: a dupla benção é, por um lado, possuir e poder desenvolver a mente lógica e racional para viver bem cada experiência, e por outro, descobrir o dom de perceber-se criança observadora, mas agora no domínio dessa mente, na medida do amadurecimento de cada um, aprendendo a utilizá-la como mera ferramenta.
A apoteose da evolução em vida é finalmente desprender-se da mente, transcende-la, a ponto de poder vir a utilizá-la só em caso de necessidade. Retomar aquele radar esperto da infância, ativo sem nenhum esforço, os filtros purificados e perdoados, registrando com precisão o bom e o ruim do momento sem tempo.
Lila, a grande brincadeira, boa ou ruim, do estar no mundo, ficou gravada nos arquivos e pastas da memória celular do corpo, aquele que tudo sabe e que nunca nos preocupamos em acessar. Antes, acessamos tudo no outro, que vem a ser o nosso espelho implacável e com o qual passamos a nos importar, esperando corrigir ali, via projeção confortável, o desconforto desalinhado dentro de nós.
Essa precisão perceptiva do presente eternidade, sem a intervenção da mente analítica, abre portas, e que seja só para um vislumbre, para outra qualidade de amor: apreciação, perdão, empatia. Ali no andar de cima do chacra cardíaco, permitimos a quebra das regras auto impostas. Na medida em que perdoamos a aparente contravenção dentro de nós, limpamos um sem número de fractais de experiências semelhantes no campo sutil de toda a humanidade.
Passamos a importar-nos, sem importunar.