O construto mental é imaginado, ilusório, sem concretude, no entanto ocupa uma imensa parcela bem ali no mais valioso espaço desse ser que somos nós, humanos, que é a mente que processa; vai vazando energia, previamente ocupa o tempo presente, aquele infinitamente disponível, com uma fantasiosa reprodução interminável daquilo que já teria podido ser encerrado como experiência expansora.
Tempo linear significa caixa, ou melhor, caixas, caixotes, caixinhas e suas subs. Agenda onde se manifesta a bolha do paradigma que não “encaixa” mais: impossível cumpri-la! Pânico, não dou conta sozinha. Estou “só”.
As agendas ou caixas, como preferir, são múltiplas e abrangem a vida, se permitirmos. Tudo encaixotadinho, embrulhado e amarrado, empilhado, planejado, ocupando os espaços possíveis da lida diária. Desse construto surgem as listas de afazeres a serem ticados e assim eliminados da lista, um a um, diligentemente. Se sobrar algo na lista? Será que encaixa no dia seguinte? Uma leve apreensão. A mente sugada em direção ao não realizado, àquelas pontas não amarradas e flutuantes que não encontram ancoramento, ao cabo de uma semana já temos toda uma rede, um tecido, um arcabouço do mais recente construto que insiste em apoderar-se de (mais um?) espaço na minha mente. Nem o sono aplaca o desconforto não percebido com clareza, porque ele tende a fugir.
O construto mental é imaginado, ilusório, sem concretude, no entanto ocupa uma imensa parcela bem ali no mais valioso espaço desse ser que somos nós, humanos, que é a mente que processa; vai vazando energia, previamente ocupa o tempo presente, aquele infinitamente disponível, com uma fantasiosa reprodução interminável daquilo que já teria podido ser encerrado como experiência expansora. Ficamos acorrentados à preocupação de replicar o passado seguro no futuro incerto que queremos tão seguro quanto.
Eis um vrtti, ou comoção mental, poderoso. Todas as tradições espirituais nos alertam para ele, e apontam para a sua origem: a ignorância absoluta sobre quem somos, ou avidya, ausência de visão crística: a conexão inexistente, a relação em curto-circuito. Relação consigo mesmo, com o nosso mais chegado e amado entorno, com a natureza, com o planeta e o cosmo.
A agenda amarrada se desdobra: escassez, isolamento, desconexão, julgamento, enrijecimento, temor, pânico, solidão. A química do corpo responde ao estado mental, acabo num corpo que “deu nisso”.